sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A mobilidade urbana como termômetro do consumismo

O advento da sociedade de consumo ocidental coloca como auge da evolução a capacidade de se adquirir bens. Dentro dessa ideologia, um dos símbolos máximos do sucesso é o automóvel.  A utilização do transporte público é vista com desprezo: apenas aqueles sem condição financeira é que o utilizam.

Sociedades mais equalitárias e com melhor infraestrutura, como a holandesa, oferecem possibilidade de o cidadão ir e vir com eficiência, rapidez, conforto, dignidade e segurança. A consciência ambiental é outro ponto forte: cidadãos esclarecidos e conscientes sobre os impactos do consumo pensam de forma mais racional e comedida no momento de adquirir um novo bem.

Países onde tanto a diferença cultural quanto financeira é extrema, como o Brasil, ficam à mercê do consumismo, já que os valores de sua sociedade são mais frágeis. A pressão econômica e eleitoral é outro fator catapultante: governos que intentam sua continuidade são forçados a constantemente tentar alavancar o consumo de bens duráveis via subsídios e financiamentos ao consumidor final. Tal atitude não poderia ter outro reflexo, senão vias urbanas congestionadas e queda na qualidade atmosférica.


Em geral, as cidades brasileiras não crescem de forma planejada para comportar o aumento do número de veículos em trânsito. Como solução, os governos limitam o número de faixas destinadas aos veículos particulares para privilégio aos veículos públicos e fazem rodízio entre finais de placas autorizadas a circular diariamente. Em vão. Quando o desejo genuíno das pessoas, pautado nessa aquisição inconsequente de bens, encontra aporte nas facilidades econômicas proporcionadas pelo governo, não existe sutura capaz de estancar a entrada desenfreada de veículos no trânsito. Em velocidade maior ou menor, o caos urbano é certo. Somente uma mudança de valores e de objetivos governamentais será capaz de mudar este futuro catastrófico.

Nenhum comentário: