O advento da sociedade de consumo ocidental coloca
como auge da evolução a capacidade de se adquirir bens. Dentro dessa ideologia,
um dos símbolos máximos do sucesso é o automóvel. A utilização do transporte público é vista
com desprezo: apenas aqueles sem condição financeira é que o utilizam.
Sociedades mais equalitárias e com melhor infraestrutura,
como a holandesa, oferecem possibilidade de o cidadão ir e vir com eficiência,
rapidez, conforto, dignidade e segurança. A consciência ambiental é outro ponto
forte: cidadãos esclarecidos e conscientes sobre os impactos do consumo pensam
de forma mais racional e comedida no momento de adquirir um novo bem.
Países onde tanto a diferença cultural quanto
financeira é extrema, como o Brasil, ficam à mercê do consumismo, já que os
valores de sua sociedade são mais frágeis. A pressão econômica e eleitoral é
outro fator catapultante: governos que intentam sua continuidade são forçados a
constantemente tentar alavancar o consumo de bens duráveis via subsídios e
financiamentos ao consumidor final. Tal atitude não poderia ter outro reflexo,
senão vias urbanas congestionadas e queda na qualidade atmosférica.
Em geral, as cidades brasileiras não crescem de
forma planejada para comportar o aumento do número de veículos em
trânsito. Como solução, os governos limitam o número de faixas destinadas aos
veículos particulares para privilégio aos veículos públicos e fazem rodízio
entre finais de placas autorizadas a circular diariamente. Em vão. Quando o
desejo genuíno das pessoas, pautado nessa aquisição inconsequente de bens,
encontra aporte nas facilidades econômicas proporcionadas pelo governo, não
existe sutura capaz de estancar a entrada desenfreada de veículos no trânsito.
Em velocidade maior ou menor, o caos urbano é certo. Somente uma mudança de
valores e de objetivos governamentais será capaz de mudar este futuro
catastrófico.
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